Quando estive em Pequim em 2018, tive uma sensação estranha ao não poder acessar serviços de dados digitais como: Google, Facebook, Yahoo e tantos outros que estava habituado.
Estive em Zhongguancun, um bairro com muitos cibercafés, aceleradoras, universidades, startups e um ecossistema digital incrível. Isto é, muito peculiar em vista à São Paulo, ao Vale do Silício ou à Europa.
Além disso, tive que vivenciar esse momento sem o suporte dos apps que poderiam me ajudar. E ainda, faltava também a noção do mandarim.
Surpresa
Mas algo me surpreendeu ao andar pelo bairro: ver os enormes prédios da Microsoft e a operação da gigante americana no país mais populoso do mundo.
Empresa, que mantém o controle no seu território digital com o “Grande Firewall da China” que bloqueia e monitora conteúdos trocados por cidadãos que possa ameaçar de alguma maneira o sistema político e a “ordem”.
Esta grande muralha de PCs vem junto de protocolos rígidos para que firmas operem com 1/4 dos usuários da internet no mundo, em especial as estrangeiras. Por isso, é importante saber o motivo pelo qual algumas das gigantes não conseguem operar por lá.
Leis Chinesas
Pelas leis chinesas, qualquer serviço de internet que opera no território digital deve manter servidores espelhados com todos seus códigos e serviços funcionando no território físico chinês. Além de manter portas abertas de acesso e permissões de controle de conteúdo ao governo.
Caso não o fizer, é ilegal. Razão de muitas bases não operarem lá, como Google, Facebook e até o Wikipedia.
Algumas empresas resolveram criar sua versão de código e operação exclusiva e destinada a essa regulação, como a Evernote que criou a Yinxiang Note. App que atua em território chinês, cumpre todos os requisitos da CAC (Administração do Ciberespaço da China), ou seja, a central de regulamentação, supervisão e controle da internet no país.
Uma divisão dos obstáculos colocados pela China com a chegada da internet nos anos 90 é que ela gerou barreiras comerciais suficientes para promover gigantes locais de tecnologia.
A Microsoft hoje em dia, possui 6.200 funcionários na China, opera seu buscador Bing, a sua rede social LinkedIn com um parceiro local, e ainda, tem uma presença grande no mercado com seu sistema operacional.
Bill Gates
Dessa maneira, Bill Gates é visto quase como um chefe de estado, a empresa mantém um bom histórico governamental.
Há pouco, os EUA têm se posicionado, de forma clara, contra as empresas chinesas no território americano. Depois da Huawei, agora Trump mira no TikTok e o WeChat. Cita, questões de segurança nacional ao proibir americanos de fazer negócios com os apps de mídia social chineses.
Contudo, o texto do programa que foi recém anunciado é vago e pode dar margem a diversas interpretações. Uma delas seria, para que lojas de apps não possam mais distribuir nenhum app chinês ou mesmo se utilizar de bases, tal como o Alibaba.
O Facebook, hoje em dia, fatura US$ 5bi em anúncios com empresas chinesas, a Apple comercializa aparelhos de celular na China. Assim como há diversas outras relações com as gigantes americanas.
Não se sabe ao certo ainda o “limite” e até onde isso pode chegar, ou melhor em “quanto tempo”. Mas o que está claro é que a briga é muito mais profunda.
Nos últimos meses, o TikTok ofereceu dados, auditoria e até abertura do seu algoritmo para o governo americano. Porém, este não é o ponto dessa guerra por dados.
A questão é que 100mi de americanos usam o TikTok. Assim, mesmo que a empresa hoje venha cumprir diversos quesitos técnicos para operar em solo americano, fica a dúvida:
- a qualquer momento a companhia pode inserir um código para que seus cidadãos sejam monitorados, argumento esse salvo pelos órgãos de inteligência.
Fato esse que inclusive faz com que o governo americano não permita o uso do aplicativo por membros do governo.
App vs EUA
Outro ponto muito sensível, é que as empresas americanas estão se preparando para retaliação chinesa, sobretudo de como se deu o discurso do secretário de estado dos EUA, Mike Pompeo, em que afirma que o programa de governo “rede limpa” tem que combater atores malignos como o Partido Comunista Chinês.
E afirma na carta que os americanos não podem atuar e fazer negócios em:
- redes de comunicação chinesa (Operadora Limpa);
- oferecer apps chineses (Loja Limpa);
- não oferecer apps chineses pré-instalados de fábrica de celular (Aplicativos Limpos);
- não armazenar informações sensíveis sobre cidadãos, como sobre o covid-19 em infraestrutura de empresas chinesas (Nuvem Limpa);
- e até em relação aos cabos submarinos utilizados para conectividade com outros países, não seja suscetíveis a intermediação chinesa (Cabos Limpos).
Assim, além do uso do termo agressivo para o programa de governo, o parecer americano é muito político. Se a Microsoft opera hoje na China seguindo leis draconianas, as empresas chinesas não terão nem opção aparente. Portanto, as estratégias de expansão de atuação do mercado digital deverão mudar muito com essa nova posição.
Opção
Aliás, a única opção para o TikTok continuar operando no território americano é vender sua operação local para a Microsoft.
É um efeito colateral que pode mudar a indústria da tecnologia devido às guerras comerciais, receio de impacto em crenças e o senso de pertencimento pelos algoritmos e dados.
A internet pode caminhar para uma bifurcação devido ao poder computacional que atingimos e ao receio de manipulação de comportamento e segurança nacional que China e EUA demonstram.
O momento pode ter também apelo eleitoral, mas é fato que estamos acelerando o futuro dos conflitos geopolíticos no ambiente digital que tem como pontos centrais os dados transfronteiriços e os algoritmos (cada vez mais poderosos).
O movimento rápido e contínuo de geração, captação e troca de dados entre fronteiras já mostrou que a tecnologia pode avançar para quem tem estratégia digital.
Resta saber como o Brasil irá se posicionar, bem como, aproveitar para se desenvolver em um cenário cada vez mais complexo e que impacta a vida de todos os seus cidadãos.
* Por: Thiago Rondon, criador do AppCivico e Diretor do Instituto Tecnologia e Equidade (IT&E)
Fonte: Época Negócios
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